Cyro – texto leo

Nadar com baleias

Se não podemos dizer que nasceu em berço esplêndido (afinal nasceu em Niterói) teve uma juventude espetacular nos famosos Anos Dourados na cidade maravilhosa. Usufruiu tudo o que podia dessa cidade que tanto amamos, poderia ter escolhido ir para os Estados Unidos, afinal seu inglês era perfeito e cresceu entendendo que democracia e livre iniciativa são valores fundamentais, mas nunca foi de escolhas óbvias, então decidiu pelo Rio.

Como bom carioca, na sua juventude, gostava de falar com todos. Falava também com quem não conhecia. Estes chamava de Nicanor, ou se o incauto estava longe demais, dava um de seus famosos assobios e virava para o lado. De tantos Nicanores, escolheu e foi escolhido. Os 3 formaram a turma que o acompanhou até o final, os Licas.

Como carioca exemplar, era interessante e envolvente, tinha bagagem, orgulhava-se de ter apertado as mãos de 5 chefes de estado. Podia ter escolhido ser um galanteador, afinal era um príncipe no Rio, mas como todos os príncipes, escolheu uma princesa. Ela vivia em um castelo, em um lugar não muito distante, mas que tinha parado no tempo chamado Santa Teresa. E apesar de todas as diferenças simplesmente foram 1 só por mais de 60 anos.

Tiveram 5 filhos, afinal, como todo carioca sabe, o que é bom é para ser espalhado. Reza a lenda, chegaram à excelência no último.
Fugiu do óbvio também nas suas escolhas profissionais, como todo carioca sabe, a vida nos exige ser resiliente, esperto, correr riscos, ter contatos, agarrar oportunidades; ou seja, características fundamentais para um bom empreendedor. Então abriu mão de um império para construir o seu próprio. Não chegou a tanto, pois vivemos em um país onde tudo joga contra empreendedores de sucesso. Mas contra tudo e contra todos, atingiu patamares incríveis de sucesso. Deu certo em um país incerto.

Quando o Rio apertou o seu calo, mudou-se para outra de suas paixões. Petrópolis, a cidade imperial, o acolheu com orgulho e lá se estabilizou, se consolidou e atingiu a senioridade. Mas o Rio… ahhh… O Rio é o Rio.

Fugiu também do óbvio em uma de suas mais belas escolhas. Aliás não escolheu, foi escolhido. Em contraponto com o seu maravilhoso senso de humor e otimismo, foi daqueles botafoguenses típicos, que só resmunga e xinga vendo jogo do Botafogo. Pé frio clássico. Nunca viu um grande título com os filhos, mas como têm coisas que só acontecem com o Botafogo, talvez esse ano, pinte um campeonato.

Como todo carioca exemplar, tinha no esporte e na natureza algumas de suas paixões. Mais uma vez não escolheu o óbvio, por que nadar em piscinas e andar em estradas? Afinal o Rio te proporciona caminhar alucinadamente no calçadão de Ipanema, correr ao lado do carro vazio em Copa, desenvolver um novo esporte chamado por alguns de jacaré…

Ou simplesmente… nadar com baleias.

Um cara exemplar que vai continuar vivo enquanto nos lembrarmos de todas essas histórias que nos enchiam de orgulho e espanto.
Tchau, meu pai.

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